Nostalgia de ti...
Meu querido...
De repente deu-me uma saudade enorme daquele tempo em que tinhamos menos preocupações, daquele tempo em que as nossas mentes e almas estavam dedicadas e dirigidas apenas para o prazer e para a satisfação do outro.
Sabes, não estou exactamente a queixar-me, apenas relembro os velhos tempos em que sorriamos com mais naturalidade, aquele tempo em que viamos mais graça e mais delicia nos nossos passeios, aquele tempo em que o simples facto de estarmos juntos era por si só um programa maravilhoso. Acho que ficamos exigentes demais, acho que apanhámos a triste mania de procurar em lugares distantes, algo que talvez esteja bem diante de nós. Resolvi escrever este "belhetinho" porque de repente surgiu-me uma estranha nostalgia de ti, nostalgia de nós, nostalgia de como eramos e de como nos portávamos um com o outro. Depois de pensar um bocadinho, concluí que é possivel reviver aquela época em que a ausência um do outro despertava a mais feroz das saudades, aquele tempe em que a chegada do outro nos fazia transbordar de felicidade.
Queres saber uma coisa? Estou a morrer de saudades tuas, e hoje quando chegar vou transbordar de alegria ao rever-te.
Um beijo
João D.
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Meu querido, meu querido, meu querido... Há luzes que se extinguem para sempre.
Se conhecesse um local onde me me fosse possível refugiar de todos os medos, deixaria tudo para trás e iria para lá viver eternamente.
Mas um local assim não existe. Nem os teus braços são mais aquele abrigo seguro de outros tempos. Neles não me sinto inseguro, mas perderam a capacidade de apagar os ataques exteriores das coisas que me fazem mal. Batalha após batalha após batalha... Torna-se difícil esquecer que estou num campo de batalha.
Há dias que o não são e noites que não chegaram a ser.
O passar do tempo constroi algumas barreiras de protecção... cada vez mais, preciso desta protecção. E torna-se um hábito ter que me habitur a proteger a minha verdadeira essência. As incessantes e recorrentes guerras desenharam ritmos invulgares na minha vida e colocaram armas à minha porta, prontamente utilizadas em cada questão.
O passar do tempo muda as coisas, altera-as e vai-me servindo como bilhete para uma viagem interior para locais tão remotos que nem eu próprio conhecía.
Quando sinto, demasiadas vezes, que não posso mais atracar no porto seguro de sempre, deixo de viajar... e espero por um tempo em que me sinta confiante para voltar a tentar ou, em caso de tentativa novamente falhada, procurar outro porto seguro – mesmo que este se esconda na solidão encarcerada dentro do eu perdido entretanto.
Mas o tempo não apaga a memória do paraíso que foi em tempos a nossa condição. Guardada no interior de nós, estas memórias alimentam a esperança, diminuem os medos e direccionam-nos certamente – a qualquer destino certo.
Não me enjaules! Mas também não me abras a porta da cela quando eu lá dentro me recolher. Saudades de ti... Antes dos campos de batalha. Saudades de mim próprio, a qualquer instante.
Há mágoas que demoram a sarar.
As paragens distantes por onde vagueamos ao encontro de respostas podem, eventualmente, transformar-se em míriades de outras perguntas... e entretanto nós continuaremos a viagem por paragens cada vez mais distantes do nosso ponto de partida e também de nós próprios e um do outro. Mas estas paragens distantes são apenas pontos turísticos que têm como função a mesma de qualquer outro ponto turístico. Depois das férias, regressamos sempre a casa... É preciso é que tenhamos uma casa para onde regressar.
Se os campos de batalha insistirem em destruir, pouquinho a pouquinho, a nossa casa, obviamente nenhum de nós voltará das suas paragens distantes.
Há venenos que tardam na sua digestão. Mas não os consigo vomitar. O vómito destes venenos seria uma derradeira batalha. Preciso de esperar digerir tudo com calma. Estou presente... Mas não apenas num só local. Tenho pedaços meus espalhados por aí. Não fui feito para estar em guerra. Depois de refazer as minhas arestas, serei de novo um só... E a cada vez que isto acontece aproximo-me mais de mim próprio. A ti, e a todos os que me querem bem, resta aceitar e respeitar esta “metamorfose” e acompanhar-me na viagem de regresso ao meu eu interior.
Eu não fui embora. Apenas senti necessidade da minha própria companhia. Com ela bem me entendo. Nela sim, sinto-me o mais seguro dos homens. Apenas ela consegue, nesta batalha em particular, anular o efeito da digestão dos venenos.
E, quando saciado, a meu tempo, sem caprichos...
Meu querido, quando saciado de mim, voltarei à tua mesa como antes. Alterado sim. Modificado. Mas não apagado. Se nesta altura ainda me quiseres, em harmonia, em paz, sem guerras, sem exigências, sem ofensas ou ataques, dando apenas importância ao que é importante... Se ainda me quiseres para os tais passeios cheios de graça e delícia, então estarei eu pronto a viajar de novo contigo. Até lá, por favor aguarda pacientemente até que me canse de viajar sózinho, já que foi sozinho que me colocaste.
Cada gesto teu em jeito de paciência, ajuda e respeito por esta minha necessidade, encurtará o meu tempo de viagem... O inverso terá o resultado oposto. Resta-te recorrer à tua nostalgia de mim e nela descobrir se valerá a tua pena esta espera pelo meu regresso. Se a esta pergunta encontrares uma resposta positiva, então deixa que se encha o teu interior de alegria quando chegares hoje a casa e me revires.
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